Tenho amigos que pensam confundir-meigualando a loucura à minha ânsia.Pobrezitos!, que tentam destruir-mehavendo de permeio esta distância.Eu tenho pena de não ser um deles, ao menos uma vez, por uns momentos.Gostava de morrer yum dia neles,ressuscitando nos seus pensamentos.Pintar-lhes-ei um dia o rosto a sério,com talento nascido de neuroseque faça vê-los nus no baptistérioonde lavam a alma da esclerose?Toda gente rirá desse retrato,e haverá certamente pró comprarum novo-rico que lhe admire o fatoe o pendure na sala de jantar.Hei-de-pôr-lhes uns olhos que reluzam, mas vazios nas órbitas repletas,profanação nos dedos que se cruzam, num indigno repouso de poetas.Ah, são eles que procuram destruir-me,criticando-me as faces controversas!mas apenas conseguem reunir-menas mil forças que tenho bem dispersas.Isabel Gouveia, in "Poemas Vários" (1950-1975)
(poema retirado de:
www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200810180106 )